sábado, 26 de setembro de 2015

NADAR CONTRA A CORRENTE

Eu estou postergando este relato há meses. Mas de hoje não passa. Justamente hoje que estou mais atolado que nunca na faculdade. Enfim, sem chorumelas. Avante!
Estamos em Abril de 2015, Barcelona, Catalunha, Espanha. Eu chegara num sábado, vindo de Sevilha, na Andaluzia.
Nas minhas viagens, eu não planejo, em nenhuma hipótese, o meu roteiro completamente. Somente penso assim: se estou indo a Berlim, devo ir à East Side Gallery. Mas já basta. O resto eu me permito conhecer. Decido na hora e simplesmente vou. Neste causo catalão, a única coisa que eu havia pré-estabelecido como obrigatório era ir ao Camp Nou assistir a um jogo do Barcelona. Precisava dizer aos meus vindouros filhos que eu havia visto Lionel Messi jogar in loco. E o resto? E a Barceloneta? E a Sagrada Família? Conheci tudo e mais. Contudo, fui no impulso, na endomotricidade. (Adoro neologismos). 
Eu sabia que o Barça jogaria na quarta. E meu ingresso já estava comprado. Também sabia que, neste sábado da minha chegada, o Barça jogaria fora de casa. Mas eu não atentara ao rival. Decidi checar na internet e descubro que ele enfrentaria o Espanyol. Se a grafia não lhe for familiar, o Espanyol também é de Barcelona. De um bairro afastado, mas da mesma cidade. Apenas 5h me separavam do horário do jogo. E aí? Vou ou não? Ah, já estou aqui! Vou sim. Os ingressos disponíveis eram no meio da torcida do Espanyol e aí eu começo de fato a minha história... Você leitor, quer ame ou odeie o futebol, sabe, de certeza, que o Barcelona é um time poderosíssimo, onde jogam o Neymar e o gênio da atualidade, o argentino Messi. O FC Barcelona é adorado no mundo inteiro. Ok. Agora imagina como se sentem os poucos torcedores do Espanyol. São da mesma cidade, mas ninguém liga para eles. Muitos nem sabem da sua existência. Os próprios torcedores do Barça ligam muito mais para um clássico contra os times de Madrid do que contra os seus co-citadinos. Isso durante décadas e décadas gerou um ódio mortal dos torcedores do Espanyol para com os culés (torcedores do Barça). Esse ódio teve e ainda tem até implicações políticas, separatistas, étnicas etc.

E adivinha onde eu fui me meter? No meio da torcida apaixonada do Espanyol. E lá eu vivi uma das coisas mais loucas de descrever na vida. O rapaz, que chegou atrasado, e sentou ao meu lado, tendo do outro lado sua irmã e sua mãe, era MUITO fanático. Ele apoiava incondicionalmente. A sua consciência poderia até dizer que seria impossível vencer, pois a disparidade entre os times é imensa. Mas, dentro de seus olhos e coração surrados de colecionados insucessos, volta e outra brilhava um quê de esperança. O jogo foi amplamente dominado pelo Barça. Só 2x0. Messi e Neymar. Mas ele jamais parara de apoiar, de incentivar, de ter orgulho de vestir o manto sobre seu corpo.

Está bem. Nada excessivamente poético nisso. Mas esse ocorrido pairou por meses na minha cabeça. Eu pensei nos pais que insistem em filhos vacilantes, como os adictos em drogas. As mães fazem de tudo, rendem-se e nós, de fora, indagamo-nos o porquê. É o amor. Todos nós humanos, às vezes ou com frequência, com um pouco mais de intensidade ou um pouco menos, temos nossos períodos de insistência às cegas. Querer acreditar que determinada pessoa jamais fará determinada coisa ruim. ''Ela me trair? Nunca!", ''Ele falar de mim pelas costas? Jamais!''. E quantas vezes quebramos a cara.
Também pensei no amor de Deus, na insistência dele em nós. Somos todos falhos. Todos. Mesmo assim, o Pai enviou seu único e precioso Filho para que todo aquele que creia nele não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus já sabia, desde antes da fundação do mundo (ipsis litteris) que falharíamos. Mas... nossa falha é mais certa e grave que a do Espanyol frente ao poderoso Barcelona. E, Deus nos ama muito mais que o fanático que sentara ao meu lado ama o seu time. 
Deus é fiel. É a fidelidade.
Realmente, posso tentar alegorizar mil vezes, mas nunca vai caber. O que Deus faz é assaz incomensurável. Pra falar bonito.
''Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.'' - Isaías 49:15 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Um poema e uma canção

''Amém'' significa ''que assim seja''.
Jesus disse: Amem!
Então, amém.

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A música que eu trago para vocês foi composta por uma moça chamada Lilian Soares, vocalista da banda curitibana Simonami. A subjetividade da letra permite que eu e você façamos interpretações díspares.
Contudo, aqui vai o cenário que se constrói na minha mente quando escuto esta canção:
Eu figuro um cristão, no meio da sua caminhada. 5, 10 ou 15 anos de convertido. Ele já conhece vários versículos de cabeça. Já leu a Bíblia uma ou duas vezes. Quem sabe três.
Mas, chega um momento em que ele dorme na fé. Os seus pecados cicatrizados já foram aderidos à sua rotina, à sua normalidade.
O pecado entristece. O pecado mortifica. O pecado isola. O pecado cega. Ele tira o anseio de viver ''além do rio''.
Ainda assim, Deus é gracioso, misericordioso e INSISTENTE em seus filhos. Os que são do Pai perseveram. De modos diversos, mas perseveram. Por méritos do próprio Pai.
E o Espírito Santo, que habita nesse ''cristão de meia-idade'', age, repetidas vezes, se necessário for, no coração do servo para que ele se volte ao Criador.
- Deixes de viver tão ébrio e abatido, meu filho. Tu me pertences e o teu lugar é em comunhão comigo.
E o servo, irresistivelmente, obedece ao chamado.


Letra e vídeo abaixo:

CONJURA - Sí, mon ami!

É bem possível que eu tenha dormido
E me esquecido do que antes vivi
Melhor seria ter mesmo perdido
Memórias do que eu néscio decidi
Decido agora que eu não lembro mais
Decido agora que eu nego tudo
Todas as decisões erradas deixo pra trás
E sigo cego, surdo e mudo

Eu bem queria poder de novo escolher o certo
Eu bem queria poder de novo escolher o Cristo
Eu queria poder de novo ver pai, mãe, família
Eu queria poder ser tudo o que o Pai gostaria
É bem provável que eu esteja aturdido
Esteja cego pra um futuro bom
Ainda talvez tenham me confundido
As mudanças de ar, cidade, tom

Decido agora que eu não quero mais
Viver sozinho, triste, entorpecido
Pelo vazio, pelo estranho vão
Que me deixaram bem no meio do coração
Eu quero deixar de viver tão ébrio, abatido
Eu quero Cristo aqui perto escutando ao pé do ouvido
O meu pedido de socorro sussurrado em choro
Vem por favor em meu favor
Vem por amor em meu favor
Conjura a dor
Afasta (a dor).



terça-feira, 26 de maio de 2015

RESTAURAÇÃO

Texto-base: Gênesis 25:1 – 33:20 



Estes 10  capítulos do primeiro livro da Bíblia têm como personagem principal Jacó. Filho de Isaque, neto de Abraão, Jacó tem sua história contada nestes capítulos. Admito que é difícil digerir tanta falta de escrúpulos demonstrada por ele, principalmente no que diz respeito ao seu relacionamento com o irmão gêmeo Esaú. Jacó trapaceia seu irmão, abusando dele para subtrair um direito de primogenitura (Gn 25:27-34), mente para seu pai para roubar uma bênção e ainda usa o nome de Deus para tal (Gn 27). As atitudes tomadas por Jacó são trapaceiras e vergonhosas. 

Sendo assim, ele foge, sabendo que seu irmão, por não ter sangue de barata, procuraria matá-lo. Daí em diante, os fatos se sucedem e vemos Jacó ralando bastante, apanhando muito da vida, em especial quando encontra Labão, seu tio, que o engana seguidamente e o faz trabalhar por 20 anos na sua casa para ter sua desejada esposa Rebeca e para ter suas posses. 

O Jacó que vemos adiante é um homem diferente. Ele reconhece misericórdia divina e, também, o seu estado deplorável diante de Deus: sou indigno de todas as misericórdias e de toda a fidelidade que tens usado para com teu servo; pois com apenas o meu cajado atravessei este Jordão; já agora sou dois bandos.” – Gn 32:10. Mais adiante, ele trava uma briga com o próprio Deus, tem seu nome trocado para Israel (Gn 32:28), nome que carregará as bênçãos prometidas a seus pais. 

Não obstante, a cereja do bolo estava por vir. Deus dá a oportunidade para que Israel sare uma ferida antiga. Há um reencontro com seu irmão, onde o amor fraternal volta a reinar naquela família: Então, Esaú correu-lhe ao encontro e o abraçou; arrojou-se-lhe ao pescoço e o beijou; e choraram.” – Gn 33:4. 

Reconciliação Fraternal

A história é antiga, mas a humanidade é a mesma. Jacó, carnal igual a mim e a ti, agiu de modo lastimável para com seu irmão gêmeo. Depois, sofreu durante a vida para conseguir aquilo que queria e, então, tornar-se um homem honrado. É isso que me faz descansar na soberania de Deus: saber que, até através de pecadores horríveis como nós, Deus realiza o seu querer. Plenamente. Foi assim com Jacó, que mesmo tendo feito coisas horríveis, carregou as bênçãos prometidas a toda uma nação. De igual maneira, é conosco. Ele nos usa, de maneira soberana, como seus instrumentos. E isso é motivo de honra. Toda sempre a Ele somente. 


Sola Fide 

quarta-feira, 4 de março de 2015

ABNEGAÇÃO


(Texto-base: The Weight of Glory de C.S. Lewis, 1942)


Se você perguntar a vinte homens caridosos, hoje em dia, qual a maior das virtudes, é possível que dezenove deles responda: abrir mão dos seus desejos em prol dos de outras pessoas. Isso se chama Abnegação. Contudo, se você fizesse a mesma pergunta para os crentes da igreja primitiva, a resposta poderia ser diferente. Creio que eles responderiam: amar. Pare um pouco para raciocinar e veja que um termo positivo e lindo foi substituído, ao longo dos séculos, por um termo com certa conotação negativa.

''O ideal de Abnegação não traz consigo a ideia primária de fazer bem ao próximo, mas de não colocar suas vontades como prioritárias, como se a nossa abstinência e não o bem alheio fosse o fim principal.''

Ao longo do novo testamento, encontraremos vários versículos que falam sobre negar-se a si mesmo (Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. – Lucas 9:23), mas Jesus deixa ainda mais claro o que mais importa: “Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” – Mateus 22:36-39. Percebe a conotação diferente? É certo que um ponto está conectado ao outro, mas nem por isso Jesus deixou de clarear a ordem prioritária.


Não se deixe contaminar pelos pensamentos deste século, eles são perigosos e podem te enganar de várias formas. Quer um exemplo? Este ideal de que o cristão não pode desejar o próprio bem, ter algum prazer na sua vida é secular, propagado por Kant e os estoicos. Isto não faz parte da fé cristã! O que Deus nos revela através de Sua Palavra é que desejamos pouco e de maneira errada o nosso próprio bem. Isto porque somos seres limitados em pensamento e ações, logo não podemos sequer imaginar as benesses eternas de amar a Deus aqui nesta Terra. Assim sendo, colocamos nossos prazeres naquilo que nossos corpo e mente imaginam suportar, como bebida, comilanças, sexo e ambição por dinheiro. Somos seres facilmente seduzíveis.

''Já pensou nas bênçãos que perdemos por não amarmos a Deus? Não estou falando de coisas terrenas, é claro! A nós nos é oferecido um galardão e nós refutamos! Isso, definitivamente, é NÃO querer o próprio bem.''  

Oremos para que a nossa alegria esteja nas coisas do alto, nossos desejos sejam os da Eternidade, nossas necessidades sejam aquelas que a Palavra alimente. E, jamais esqueçamos que a mentalidade cristã prioriza o amar ao próximo ao invés do devo fazer ou deixar de fazer isto ou aquilo.


Em tom de desabafo,

Deus nos ajude.